sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Reflexões (parte um)



Acorde! Vamos, Acorde!
Mais um dia começava, um dia sem esperanças de novidades, e tudo o que eu queria era ficar deitada, não porque queria as novidades que sabia que não chegariam, mas porque estava cansada do mundo lá fora. Nada tinha graça pra mim, não gostava daqueles lugares e tão pouco gostava daquelas pessoas, talvez se tivesse nascido em outro lugar as coisas tivessem sido diferentes, quem sabe eu seria mais uma daquelas meninas com um namorado comum, que corria para a casa das suas amigas. Chegando lá reclamaria de como ele não me dava atenção enquanto devoraria um pote de sorvete, elas, por sua vez, encheriam minha cabeça com mais dúvidas ainda. Seria uma menina normal, com um namorado cretino normal e amigas traiçoeiras normais, e gostaria disso....Não, sem chance!
Costumava refletir sobre "e se..." todos os dias, antes de dormir e antes de levantar, coisa de quem não tem o que fazer, sempre achei que se fosse mais ocupada seria mais feliz, mesmo nunca havendo conhecido alguém feliz por ser ocupada. Na verdade, todas as pessoas que conheci e se diziam ocupadas se diziam infelizes por não terem tempo para se divertir, então eu me perguntava a que elas se referiam quando mencionavam diversão.
Quando eu tinha por volta dos doze anos eu me divertia assistindo TV, sentada de frente para o aparelho era capaz de gastar dia todo ali, assistindo desenhos, novelas, ou qualquer coisa que passasse. Lembro-me de gastar tarde assistindo até mesmo horário político, e daquela forma eu me divertia. Ou achava que o fazia. Agora me pergunto se algum dia realmente cheguei a conhecer o que chamam de diversão, será que o que as pessoas sentem quando estão jogando passa-tempo com a família ou amigos (creio que tem gente que se diverte assim) era o mesmo sentimento que eu experimentava sentada de frente para a TV? Pensando bem no assunto, creio que não pois, eles pareciam muito mais felizes que eu. Provavelmente eu era uma garota de vinte e dois anos* que se quer havia conhecido o sentido da palavra diversão.
Algumas pessoas se divertem arriscando sua vida, por quê? Esse é geralmente o tipo de pessoa que mais teme a morte, pessoas felizes temem a morte, pessoas infelizes anseiam por esta, o que não quer dizer que não a receiam, pessoas felizes tem muito a perder, ao passo que as infelizes não, ou estarei enganada? Então deve haver diversão no risco de perder a felicidade. Talvez essas pessoas estejam cansadas de serem felizes e queiram sentir o gosto amargo da infelicidade para depois voltar a adocicar a boca. Talvez a diversão esteja no contraste.


p.s não tenho 22 anos, essa é a idade da personagem do texto.